de tempos em tempos, eu fico meio solitário, parece que é tudo uma imbecilidade, esse homenzinho fajuto todo traumatizado querendo pegar em mãos as tarefas mais importantes, mais insólitas, querendo ser o filósofo espírito livre que passa alguma coisa de realmente interessante pra frente
de tempos em tempos, ainda bem que às vezes demora bem mais que menos, eu fico meio assim, meio chorando toda hora mais pela emoção da cura que pela tristeza da dor, a verdade é que só os mais fortes podem suportar as maiores verdades, porque as grandes verdades são especialmente dolorosas, especialmente horripilantes pra gente que passou a vida acreditando que aquilo que se falava por aí oficialmente devia ser real
pelo menos eu posso desabafar despreocupado com a pontuação ou a semântica, afinal como já disse antes ninguém lê e se alguém lê é aquele excepcional que não vai se sentir ofendido por no caso estar categoricamente inserido no grupo que chamo de ninguém
é triste a gente dedicar a vida às sintonias da eternidade e aos poucos se dar conta do quanto lutaram contra meu esforço, do quanto me disseram que isso tudo era uma estupidez sem tamanho, que tudo que eu escrevo era ou complicado demais, ou chato ou tedioso ou presunçoso ou um pouco de tudo isso junto demais, perdoe-me a alegria do jejum prolongado mas é duro a gente querer a mais profunda honestidade emocional e psicológica e por fim estar sempre batendo de frente com os muros e muralhas que colocam em nossa frente
mas tudo bem, porque eu pedi mesmo por isso, eu já sabia que se quisesse pensar do meu jeito, me dar o tempo de sentir o que está havendo dentro de mim pra poder fazer alguma de mais interessante praquilo que está fora de mim, era óbvio que isso ia exigir alguma dor, alguma dor especialmente confeccionada praqueles que sofrem por se dar conta do desperdício que é o ser humano sobre a terra nesse momento
a maioria sofre porque se apaixonou sem reciprocidade, ou porque o amor que pulsava se esvaiu e falta coragem pra recomeçar, ou porque não sabe aonde vai parar a conta bancária ou se o plano odontológico vai cobrir esses diachos de rombos que arranjamos com todos esses suspiros venenosos do açúcar branco como avental de açougueiro
eu bem sabia, desde o princípio já suspeitava se é que me entende, que essa coisa toda de tentar entender o mundo, de pesquisar a história por detrás das histórias, de desvendar os segredos do coração, casar a ciência e a religião, unir o holístico, o místico, o censurado, o orgásmico, eu bem sabia que essa coisa toda de buscar ao máximo viver o máximo que se possa viver com certeza cedo e ou tarde ia e vinha teria sempre alguma solidão triste pra me fazer questionar tudo
questionar minha utilidade no mundo, bom isso já pouco importa, tem um tempo que desisti de me convencer que ser útil é o derradeiro propósito desse tal de homem, útil é o escravo pro amo, a ferramenta pro mecânico, a terra pro fazendeiro, útil é o que cause interesse direto relativo ao bem-estar, geralmente considerado daquela maneira superficial, em que o bem-estar é poder beber, dormir e trepar sem um patrão pra aporrinhar, mas isso pra mim são só as férias do demente que se permite ser criança irresponsável por duas semanas ao ano, se ele não vender pra empresa enfim essa pequena vacância que permitiria o solução de inconsequência que todo bom cidadão registrado e remunerado tanto anseia no que se arrasta sua existência de responsabilidade pra com ditames que ele está longe, ah tão longe de ser o idealizador
quem sabe se viver idéias e ideais alheios seja realmente mais confortável, pegar pronto o que dão de bandeja sem se perguntar se as moscas na cozinha trariam algum malefício, sem pensar onde teriam estado as mãos do carregador que lhe vem entregar o biscoito da sorte premeditado, redigido em masmorras do mercantilismo abestado
ninguém se importa realmente, ninguém vai vir me dar um cafuné a essa altura, então eu me abro pra Deus, que sabe bem me curar, essa solidão é só uma palavra besta pra quando a gente não se enxerga muito bem na companhia da inteligência criativa essencial, se eu chorei à toa sei que Ele me perdoa, e o mesmo pra quando rio fora de hora, porque nesse mundo parece mais certo se conter e suprimir do que se expor pra tentar amar
talvez elas que têm medo, estão muito machucadas, já não podem entender os desígnios indigestos do maltrapilho descabelado que carrega perspectivas bastante inéditas sobre o encaminhamento da humanidade, talvez elas têm ódio, é o que costumo ver, ódio pela sinceridade que não sei economizar, ódio por afinal receber aquilo que é belo que vem da vida, me odeiam porque eu sinto que é bonito mas dói demais se eu falar assim isso bem alto e claro
porque o que é bonito está de saco cheio do fato de ser bonito, está difícil de argumentar, mas está certo mais que certo, elogios e recriminações são tão vazios quanto as orações que pedem por uma resolução instantânea de todos os problemas, não é vida sem problemas e Deus se veste alguma roupa é bem descolada de professor motoqueiro maconheiro que ensina tudo na prática e não poupa palmatórias aos seus lobos desgarrados, as lições vêm devagarinho, mas pra aplicá-las tem que ser esperto, aprender aprendemos rapidinho, treta é colocar em ação do tal jeitinho sem pestanejar, fazer de cada nova decisão na alma a restauração, a sustentação, o lar
se sensibilidade estivesse à venda nas vitrines
será que alguém pagava pra ter?
ainda lembro daqueles dias
lembro de tanto mas às vezes me esqueço

lembro daquele sonho com a pomba branca
na primeira noite do ano novo enquanto eu respirava debaixo dágua
ela pousou na minha mão e isso era a suprema confirmação

lembro de dançar como se não tivesse corpo
e o corpo fosse muito mais que corpo fosse o infinito e além
lembro de tirar a eternidade pra dançar e ela aceitar ser conduzida
ali o vôo humano era com pés no chão pés de bailarina de maracatu

lembro daqueles pãezinhos frescos que entreguei humilde praquele senhorzinho da rua
ele me agradeceu apertou minha mão e foi lavá-las na água da sarjeta antes de se meter a comer

lembro de morrer tantas vezes
sempre do mesmo jeito a morte pelo amor supremo
a morte em vida que é a vida de dentro da vida mais universal
lembro de ser cristal nuclear planetário e todo canto de pássaros que o sustenta
e depois brotar de novo do chão como geizer de espírito que eclode

lembro de ser aquela criança amedrontada morando num veleiro que podia estar se enchendo dágua
lembro de derramar aquele coquetel de camarão ao molho rosé no convés e ficar com medo da rinha
e a mamãe me acalmou dizendo que tudo bem filho a gente recolhe os cacos de vidro e está resolvido

lembro que falava os piores palavrões do mundo mas era só porque gritar elogios aí sim seria coisa de louco
lembro daquele buquê de flores que mandei praquela menina tão bonita que nunca quis falar comigo
e da primeira vez que beijar foi dar à luz galáxias de emoção ah lembro bem ela era o pêssego falante

lembro de tantos abraços e colunas estalando e cervicais despontando
se recebo algo de volta do mundo é a massagem sutil de Deus quando massageio alguém atento
se recebo algo de volta é gélido ardor da cachoeira que vem botando pra fora toda sinusite acampada

sei que o que mais gostaria de lembrar agora esqueci
porque a memória é coisa viva com vontade própria
mas lembrar ajuda a fazer reconhecer
que de tudo que faço e fiz
ficou só a parte mais doce
grandes olhos vigiam o homem
será o homem pássaro livre para voar?

mas se há em torno dele
uma gaiola que não se enxerga
ainda não deve ele deixar de cantar

claro que pássaro homem na gaiola a cantar
vai estar triste trovando do sonho de liberdade

e se houverem outros homens de fora da gaiola
com seus grandes olhos vigiando
se um destes homens tiver um dia ouvidos
pra ouvir o que canta o pássaro na prisão
ele não vai gostar ele vai é chorar de solidão

por perceber que mesmo sem barreiras em torno de si
assim como o pássaro ele está também entre grades
que além de invisíveis parecem indestrutíveis

que as grades daqueles que enjaulam os pássaros
são mais fortes que o mais tenaz aço
pois a matéria que as forja é a irresponsabilidade de seus atos
grandes olhos vigiam o homem
será o homem pássaro livre para voar?

mas se há em torno dele
uma gaiola que não se enxerga
ainda não deve ele deixar de cantar

claro que pássaro homem na gaiola a cantar
vai estar triste trovando do sonho de liberdade

e se houverem outros homens de fora da gaiola
com seus grandes olhos vigiando
se um destes homens tiver um dia ouvidos
pra ouvir o que canta o pássaro na prisão
ele não vai gostar ele vai é chorar de solidão

por perceber que mesmo sem grades em torno de si
assim como o pássaro ele está também entre grades
que além de invisíveis parecem indestrutíveis

que as grades daqueles que enjaulam os pássaros
são mais fortes que o mais tenaz aço
pois a matéria que as forja é a irresponsabilidade de seus atos
foi sem querer querendo
que eu fui me importar
com essa coisa toda de humanidade
esse povo que não estuda
não sabe nada do mundo
da história das estórias
as verdades do monopólio e da conspiração

esse povo que não faz idéia
do que esteja em cima ou em baixo de si
que acredita naquilo que parece gostoso de acreditar
por mais insultante que às vezes seja acreditar

esse povo está acreditando que o mundo tem gente demais
estão acreditando que o problema do mundo no fundo é a gente
gente demais sobre a terra até inventaram nome pra isso superpopulação
mas se a população é tão fraca e inútil como pode se chamar super eu pergunto

a verdade
que é só mais uma mentira divertida
apesar de um pouco mais informada sobre mentiras divertidas
a verdade é que não é nada disso
aliás superpopulação quem inventou foram os eugênicos
gente demais no mundo só vê quem quer a eugenia

mais fácil realmente pulverizar a civilização
do que torná-la instruída pra tarefas reais e maiores da humanidade
mais fácil liquidá-la pela política econômica da miséria que educá-la
vamos sim educá-la pra crer que quando vier abaixo isto seria saudável pro mundo

isso é puro nazismo meu amigo
queira você admitir ou não
isso é tomar em mãos a seleção natural e brincar de rei da vida

porque bastava aplicar a inteligência
as fontes de energia infinitamente limpas e renováveis
as abordagens disciplinadas mas benevolentes pra com o povo

bastava aplicar a sabedoria técnica que Deus que nos acuda nos deu
fazer as coisas se moverem sem gastar nem poluir
deixar a gente se alimentar sem lucrar nem envenenar

mas não tudo bem
o mundo tem gente demais
é isso mesmo evite estudar
só não vá se esquecer
que da gente demais no mundo um deles é você!
leve tudo que é bom
tudo que dói
o melhor e o pior de você
leve lá pro fundo bem no fundo de você

atire a gota dourado de emoção
no poço escuro e profundo
e não pense senão em seu desejo
até ouvir o pingo lá no fundo pousar

digestão não é só no estômago
nem o estômago é só no estômago por sinal
o cérebro está em todo canto e também teu seu suco gástrico
a alma digere o pensamento que de energias coloridas se alimenta

boa digestão precisa de limão
precisa de bastante água que a base é a hidratação
a ternura sacra e toda perfeição transparente que experimentei
toda eternidade que rodopiei é por causa de muita água no coração

veja se aprende a fazer assim com a vibração:
alegria e felicidade
sobre este mundo
só existem inventadas
ninguém disse que seria justo
ninguém disse que seria gostoso

aliás bem pelo avesso
a coisa é bem injusta
é cruel fétida e desagradável

só salva uma ínfima parcela
que é aquilo que chamamos vida
vida inteligente e higienizada
não precisa resolver equação de terceiro grau
lavar bem atrás da orelha já está legal

ninguém disse que ia ser justo
mas se é justiça que você quer
vá lá e aplique-a!

escreva tuas leis
escolha teus carrascos
eleja o fórum utópico que nos guie

e tenha força pra ser juiz
a frieza pra encerrar o assunto
que não há rei e reino sem muralhas e exército que os acolha

ninguém disse que ia ser justo
mas a justiça está aí pra ser feita
especialmente a justiça que está dentro de você
especialmente a satisfação frente ao mero acaso de estar-se vivo
elas não virão do mundo
mas se você der à vida
quem sabe cedo ou tarde ela retribua na mesma moeda!
ninguém disse que seria justo
ninguém disse que seria gostoso

aliás bem pelo avesso
a coisa é bem injusta
é cruel fétida e desagradável

só salva uma ínfima parcela
que é aquilo que chamamos vida
vida inteligente e higienizada
não precisa resolver equação de terceiro grau
lavar bem atrás da orelha já está legal

ninguém disse que ia ser justo
mas se é justiça que você quer
vá lá e aplique-a!

escreva tuas leis
escolha teus carrascos
eleja o fórum utópico que nos guie

e tenha força pra ser juiz
a frieza pra encerrar o assunto
que não há rei e reino sem muralhas e exército que os acolha

ninguém disse que ia ser justo
mas a justiça está aí pra ser feito
especialmente a justiça que está dentro de você
especialmente a satisfação frente ao mero acaso de estar-se vivo
elas não virão do mundo
mas se você der à vida
quem sabe cedo ou tarde ela retribua na mesma moeda
já sei que se todo dia de manhã eu não renunciar
se todo dia de manhãzinha eu não renunciar de novo e de novo
aquilo que por mais gostoso que chega está me impedindo de algo

já sei que todo dia ao longo do dia eu vou ter que resistir
eu vou ter que me segurar pra não fumar não engordar não consumir
eu vou ter que ficar bem de boa bem na minha pra encontrar minha firmeza

eu preciso
preciso da firmeza
deixa eu celebrar depois da vitória
por favor é comigo mesmo que estou falando
é pra mim que peço encarecido deixa a vitória chegar antes de comemorar!

deixa a festa encostar antes de acender a vela
deixa a alegria correr na festa antes de trazer o bolo com a vela acesa
mas essa renúncia não é resignada ela é comedida sem nada de vingança contra si

eu só quero poder ser mais forte amanhã
amanhã cedo despertar mais forte que hoje
e às vezes há alegrias que impedem a força de crescer

há sublimes momentos que não se podem banalizar
o orgasmo múltiplo e a iluminação transcendental não podem ser todo dia
se for todo dia já logo acostuma aí não é mais estado alterado é só o tédio corroborado

o menino vai cantar o jogo
vai cantar a bola antes da hora
o moleque vai abrir a guarda
vai cantar vitória e tropeçar no sprint

mas é toda essa renúncia
junto de muito treino insistente
é toda essa dor cotidiana
junto de muito sorriso radiante
que vai formar novos degraus na minha escadaria
que vai empilhar tijolos da discórdia pra que eu escale ao céu

e nessa queimação de diafragma
flexões invertidas e respirações de fogo
nessas correrias superurbanas
regadas do catarro fino que vou soltando
arquivos do ipiranga imobiliárias da saúde
de loteria em loteria vou só pagando minhas contas
aposto minhas fichas todas é num jeito bem firme
um jeito bem firme de viver

de brancão em brancão
eu vou aprendendo a desmaiar sem cair
eu vou aprendendo a me corrigir
sem maldade sem cisma
é só porque eu quero me transformar

eu quero
de verdade
sim filho Eu sei

Pai
perdão a intromissão
eu só queria pedir
Você sabe
sabe bem antes de mim

permita por favor
que nossa mensagem chegue nas pessoas
sinceramente do fundo do coração
eu acredito que o mundo merece esse tratamento especial
permita que o poder possa ir além da ganância

permita que em minha glória
dádiva Tua
que em nossa glória de cura
dádiva de todos Teus anjos
que no auge de minha grande conquista eu me mantenha humilde

permita a grande alegria
e o respeito mais pleno pela mesma alegria
permita que despertemos mais fortes a cada manhã
e também mais conscientes de nossas possibilidades
mais poderosos e mais atenciosos

permita que o amor possa crescer
no perfeito casamento entre a ciência e a crença
e que possamos aprender verdadeiramente as lições que nos tentamos ensinar

sou grato
obrigado Pai
agradeço tanto quanto vivo
e enquanto viver agradecerei

seja então cada ato
cada emoção
seja cada imagem e cada interpretação
o reflexo e o gesto perpétuo da gratidão
eu posso ir atrás do amor
mesmo se meu nariz estiver escorrendo?

os alergênicos realmente podem me impedir?
será melhor mesmo se entocar por causa da coceira?
e se ela fosse me amar mesmo fanho entupido?

será que a sedução -ai mas que maravilhosa interrupção
esqueça a sedução!

eu quero ser verdadeiro...
e se verdadeiramente sinto vontade de ir até lá mesmo gripado...
uma paz azul clara me diz sim gafanhoto confie sim vá lá mesmo congestionado

que amanhã o nariz pode estar bom
mas já a chama da paixão ter se apagado!
tem alguma coisa
eu não sei bem o que é ainda
mas tem alguma coisa

quero cuidar da borboleta
mas que é pra depois surfarmos juntos

eu vou cuidar dela se Deus deixar
mas é porque quero vê-la sorrir

com certeza tem alguma coisa aqui
e pouco importa saber dizer o que é
importa saber simplesmente que é

se eu cuidei dela
é porque ela cuidou de mim também
ela ficou ali paradinha tão bonita
deixando com calma o vento soprar longe o silêncio

ela deixou eu pegar nas mãozinhas dela
eu cuido da borboleta porque ela cuida de mim

cuido
mas que é pra depois a gente surfar juntos!
poesia da manhã sou
poesia de alvorada sou
poesia do orvalho fresco sou

chego carregado exausto
começo pelas goteiras do telhado
que quando chova possamos agradecer

de longe vim
do nascer da manhã vim
da origem do segredo vim

gostamos da novidade
gozamos da novidade de tudo
que há tanto cresce ensopada em nosso jardim

olhei pela floresta
andei amigo dos cedros rochosos
fiz um dia feliz os que vivem entre paredes

pensei estar vivo
vi que era mais era pisar do lado de fora
e lá fora estariam todos os homens sem exceção

pensei estar vazio
vi que era mais era colocar as coisas no devido lugar
estar pronto aos amigos que quando voltam voltam precisando de carinho
poesia da manhã sou
poesia de alvorada sou
poesia do orvalho fresco sou

chego carregado exausto
começo pelas goteiras do telhado
que quando chova possamos agradecer

de longe vim
do nascer da manhã vim
da origem do segredo vim

gostamos da novidade
gozamos da novidade de tudo
que há tanto cresce ensopada em nosso jardim

olhei pela floresta
andei amigo dos cedros rochosos
fiz um dia feliz os que vivem entre paredes

pensei estar vivo
vi que era mais era pisar do lado de fora
e lá fora estariam todos os homens sem exceção

pensei estar vazio
vi que era mais era colocar as coisas no devido lugar
estar pronto aos amigos que quando voltam voltam precisando de carinho
busque a espiritualidade
e se ilumine

porque só viajando assim na velocidade da luz
que o tempo pára e o eterno nos beija
um pé de ganja não tem dedos
mas ainda assim carrega seus charutos
enquanto a música toca no estéreo
enquanto a música toca lá fora
no soprar dos ventos
no canto dos passarinhos

enquanto as buzinas e alarmes dormem
os documentos nos ajudam nas tarefas mais indizíveis
vou querendo ficar e parece que sempre fazem me apaixonar
sempre me fascinam
me fortalecem com ternura

enquanto a música toca alto
a vizinhança entorna o sábado prodigioso
deixando a queimada correr
que os portais se abram
enquanto cá estamos

enquanto a dança voa
no coração desesquecido
amante de toda ambição esclarecida

enquanto a casa de máquinas pulsar
nas cozinhas amplas de nossa singular virtude
enquanto harmonias dançarem na brincadeira tônica
amarei pelo curto de todos os circuitos
se eu fosse dizer uma coisa engraçada
diria que rinoceronte não pode usar papel higiênico

mas a vida não é uma comédia
e os comediantes benditos e malditos
que não me importunem quando relíquias maiores estiverem em jogo
posso me dar a praia
posso me dar o sol

a lua
as canções de fogueira
até o aroma da primavera

posso me dar a praia e o sol
mas o beijo da amada
ah o beijo da amada só Deus dá
se isso for poesia de calaboca e olhos cerrados como punhos
se isso for britadeiras luminosas tilintando órbitas de sonhos centrais
se isso for poesia de estapear as duas lapas da própria cara no improviso
se isso for banho de bicas gélidas a despertar o fogo que queima no zênite de você

I'm letting myself go

prefiro mil vezes a simplicidade da sobrevivência
mil milhões de vezes a sobrevivência do artista suspeito

a parca nutrição do artista leal e provocador
despensas ora fartas ora escassas ao roedor

mil vezes a sobrevivência que celebra
que é pura celebração

sobrevivendo celebraremos!
celebrando sobreviveremos!

em terras distantes
alheio às odiosas guerras e guerrilhas dos egos
fagocitantes e medíocres resvalos egóicos nas redações dos periódicos online

sou muito mais a simplicidade
do que precisa de tão pouco
mas que faz tanto do pouco que tem...
é hora de mudar

enxergar o caminho depende de olhos generosos
trilhar o caminho só se consegue com as vistas claras

e venho cambaleando
caolho de estigma
fazer louvor

é hora de mudar
deixa o negocinho de brincar estar
abre bem as gavetas quando for hora de estudar

que o que se sonha é bem diverso do que está lá fora
as salsas quentes que lhe temperaram são imaginação

aqui fora
fora do sonho
ela segura bem os soutiens

aquela lá dentro
dentro do sonho que me levanta descarada as blusas
ela é só abreviatura rupestre que lhe faço pela vontade de tocar
a vida é tão improvável
a vida é tão imprevisível
a vida é tão improvável
é tão rara

os universos matemáticos imaginários
todas as ciências ulteriores
passem vinte mil anos de evolução técnica
jamais poderão senão definir e delimitar

porque só a arte que pode explicar
só o artista vai saber inventar o senso
a lógica criativa que apequena até o imenso

a vida é tão tão improvável
é tão complicada de estar aí bem desse jeitinho que está
é tão custoso tão demorado tão sofrido tão tão escomunalmente extrincado
você estar aí
eu estar aqui
o aqui e o aí no fundo serem a mesma coisa
que no fundo não é coisa alguma nem tempo nem lugar

a vida é uma coisa de saborear
e quero ver me convencer de que haja ceia sem mestre cuca

onde é que vai fazer sentido dizer que haja mesa posta
sem carpinteiro e tecelão

como é que vai haver alguma sobremesa
sem quem extraia da cana a querência
me diz se havia de haver água doce nos cocos sem coisa que sentisse sede salgada na praia

me diz se havia de haver fruta adocicada
sem tanta saliva destemida da bicharada

a vida é tão rara
pede tempo pra alma nascer

a vida é pura beleza
aos que chamam belo tudo que é natureza
tenho pouca certeza do que é hoje
-fiz dele algo útil?

mas por que tem de ser útil pra valer?
-benza céus azuis portanto valho tantotanto!

o que conta na vida é saber erguer paredes
assentar vigas e telhados vivos pra gente passear

o que conta na vida é se misturar
mesmo que às vezes pouco saibamos do que é hoje
ou do que é fazer de um dia algo útil

quem sabe
quem sabe a poesia de pito picante
em sua produtividade tão digna de piedade e respeito

quem sabe a poesia faça algo pela vida
mesmo que inútil
perdida entre labirintos expectorantes das represálias cíveis
buscando mudar isto e aquilo
aqui e ali por estas bandas

por estas bandas
erguer vigas e vivos telhados
pra que quando a chuva enfim venha
possamos nos sentir agradecidos
andar sobre as águas e multiplicar os peixes
são milagres bacanas

mas milagre mesmo
é uma mãe solteira com dois empregos
que ainda tem energia pra dar amor e carinho pros filhos quando chega em casa

saiba como pedir as coisas pra Deus
por exemplo se quiser coragem
peça pela oportunidade de ser corajoso

se for pedir compaixão
saiba que o que vai chegar é oportunidade de ser compassivo

se pedir por paz no mundo
o que vai ter é a oportunidade de você mesmo transformá-lo
quando a gente se incomodar com a desgraça alheia como se incomoda com a nossa própria
quando a gente olhar pra solução dos outros como parte da nossa própria solução
quando a gente conseguir não torcer nem comemorar quando o outro senta no quiabo
já é seis sétimos de manter bem longe do coração tudo que é diabo

quando a gente souber agradecer a tudo e todos
que contribuíram pra chegarmos aqui
quando a gente conseguir perceber tanto trabalho que tantos tiveram
pra estarmos aqui digitando essas asneiras frívolas em blogs indecentes
é certo que florescerá nossa benção maior entre os viventes

porque quando se trata da energia cósmica
já pode ficar sabendo
energia só recebe quem está dando
boas energias só se recebe quando já se está há um bom tempo dando

se eu disser que sim
a novidade estará em cada pequenino reconhecimento
se eu disser que não
a novidade quê novidade nunca há de haver não
quando a gente se incomodar com a desgraça alheia como se incomoda com a nossa própria
quando a gente olhar pra solução dos outros como parte da nossa própria solução
quando a gente conseguir não torcer nem comemorar quando o outro senta no quiabo
já é seis sétimos de manter bem longe do coração tudo que é diabo

quando a gente souber agradecer a tudo e todos
que contribuíram pra chegarmos aqui
quando a gente conseguir perceber tanto trabalho que tantos tiveram
pra estarmos aqui digitando essas asneiras frívolas em blogs indecentes
é certo que florescerá nossa benção maior entre os viventes

porque quando se trata da energia cósmica
já pode ficar sabendo
energia só recebe quem está dando
boas energias só se recebe quando já se está há um bom tempo dando


vamos brincar de ser feliz
vamos brincar de bobo é quem me diz

evitando a roeção de unhas
busco em mim aquele silêncio difícil
complicado

aquele silêncio ralado de paz e foco
aquela paciência de beneditino na cicuta
vamos brincar de alegria!

vamos brincar de energia
pintar o prejuízo de folia
vamos brincar de ser feliz

porque bobo é quem me diz
bobo não crê no sonho
fica triste sem diretriz

mas que posso fazer
senão amar incondionalmente à distância
com o pathos da compaixão
aqueles com menos sorte na contra-mão...

vou ressoando o que vejo
o olhar diz sim ao que enxerga
e o enxergado diz sim e se faz visto

vou concordando com meu desejo
que o coração e a alma querem cadência
pois o que sou que possa negar-lhes tal decência

pela rima invento prudência
pra então já deixá-la solta
volte logo louca
com seu chifre uno de unicórnio!

não nasci pra desconfiar
nasci foi pra salivar
de boca quieta
mas também aberta se a hora for a certa...
pô minha gentem
já num tá bem claro
mais que claro

é tudo inventado
mundo só existe um que eu saiba
e macacos cósmicos me mordam se eu estiver certo -caramba que tenebroso estou mesmo certo!

pego os grãos pedregosos do tenebroso e vou raspando que raspando contra a mesa
que é pra fazer dos grãos farinha
primeiro grossa
aos poucos
fina

depois eu pego essa fina farinha dos pedregosos grãos do tenebroso
taco no coador
jogo em cima uma água de diamantes liquefeitos quase em ponto de fervura
e voi lá!

sirva-se
é o elixir da alegria

mundo que eu saiba só há esse
e é nisso que eu vou botar fé
e outro que haja se houver
se chego lá ainda chego à pé

eu amo esse mundo
amo ele encabrestado
estribado nos banqueiros e antepassados sumérios
amo esse mundo de bafo azedo e doces lições

amo esse mundo que tão poucos compreendem
tão poucos sentem

de tudo reclamam
pois não têm tempo de se indagar
o porquê do trânsito ali travar com miríades de ondas de gafanhotos sobre quatro rodas
ninguém senão o paradoxo do ninguém estanca o passo pra ver que no fundo
no fundo o trânsito parado é fato consumado entre milhões de almas

milhões de almas zanzando dia depois de dia
num raio de terras que qualquer bom ultramaratonista percorre treze vezes num dia
haviam de causar transtorno umas às outras dentre os piscaluzires dos semáforos inocentes

mas no fundo
a toupeira dadaísta enche os pulmões
no fundo são tudo sentimentos e emoções humanas movendo cada repimboca de parafuseta avante
acho que no começo a primavera vem mais é desafiando
as flores a desabrochar não é sinal pra relaxar
aliás pelo contrário é bem a hora de marchar

corre correr a ventania as tempestades obscuras sobre nós
corre com bem séria alegria e cuida do sonho alheio como cuida do teu

por mais paradoxal que seja na aparência
a boa verdade é que o sonho alheio
bem pode te resultar muito mais sonho que aquele teu que você tinha imaginado
se liga só que eu vou te falar
vou te falar o que é que você tem que fazer com esse trem
se é que você sabe ouvir das coisas que se tem pra fazer

antes que tudo
esquece essa romanticália ultrapassada
não tem alma gêmea pra te completar

outra
a vida é essa e ponto final
a próxima se vem vem como essa imprevisível e auto-contida

depois de desencanar do básico
o medo de ficar sozinho o vício por outras pessoas
o medo de morrer o medo de não alcançar o status de estrela do rock 'n' roll

bom daí você quase pode começar
a ser bakeines
se é que me entende

uma pessoa realmente bakeines
top na balada
vai saber dançar e não pensar em mais nada

daí dançando e em nada pensando
você vai saltando de agora em agora
firme sem deixar rastro de dúvida nem apego

daí você vai dançando vai dançando
vá ouvindo bem devagarinho que é só assim que se dança afinal
vá ouvindo vá andando o passinho desafogando os oceanos

quando os oceanos se tornarem em espadas
e o jogo das ondas for o jogo das lâminas dançantes sob os pés
então voe e para seguir voando vá dançando sem pensar

passarinho bicho homem voa foge do mar dos fios e cortes
vai se apousar em noutros postes passarinho bicho homem não desiste

I just wanna be crazy

Burn rastafarae!
Rastafarai people!

a babylon está dentro de você
so if you're gonna burn
burn inside de você

como uma fogueira mini voadora
ou um míssil teleguiado agarrado com os dentes
el porro arde
libera seu aroma sensualizando as abelhas no quintal

aromas e amoras
anagramas agradáveis

o instrumento estrala
pequenino estralido de carburagem
talvez lasca de sementes fazendo as faíscas volatins

vai cozendo por de dentro
tosso tusso e tudo mais dos catarros me saúdam
engulo o gosto gostoso gosmado dos pulmões e vou tomando aquela água extra que é pra me esquivar de tudo que inventaram nome pra dizer que é doença mas que no fundo nunca passa de falta de água no sangue
e amém

se o meu chakra raiz reclama com uma pontada estranha
é talvez porque dormi com roupa de jantar fora e o jejum apertou na larica desclorelada

ah sim e se de repente não menos que de repente eu parei pra atender um telefone mesmo que imaginário
então temos que recomeçar do zero que é o ohm um eterno
e limpar qualquer coisa ou todas as coisas pode mesmo ser um bom recomeço seja lá do fim que tenha sido!

escravidões mascaradas
uns querem obedecer
muitos porque não sabem criar um significado
não podem inventar a si mesmos um profundo propósito

então encontram os que querem mandar
aos que querem obedecer prometem teto e garantem leito e leite de aveias
mingaus empolados
por fim se divertem juntos os que mandam mal e os que obedecem aos outros

vale qualquer coisa se é que qualquer coisa valha aquele que obedece a si mesmo
e mais ainda
aquele que saiba quando urgentemente necessário exatamente desobedecer a si mesmo
sem delongas
nem desastres nas dinâmicas das lâminas de óctuplos gumes

Êta Prêula!

se a mina te altera
pra bem ou pra mal
se a grana te altera
se a vitória mexe com teu humor
ou se a derrota acaba com ele

é tudo sinal de fraqueza
sinal de que a vontade era só casca e nada de recheio

a verdadeira vitória está lá dentro
e quando a vitória aqui fora acontece
e daí
se você se alterar é porque não tava firme o bastante

que nem mulher
se conquistar aquela mulher
aquela super gostosa que geralmente nem te dá a mínima
ou mesmo se pra conquistar você precisa literalmente fazer alguma coisa
já tá tudo errado e eu não tou nem aí
diga o que disser homem que é homem não corre atrás da mulher

essa estória toda de que a mulher completa o homem
também sou bem desconfiado viu

tinha tempo o homem não precisava de nada
ficava lá imperador sentado no seu trono muitas abanando com penas de pavão
certo
olha só eu não tou inventando nada

que se dane também
eu falo porque se calo a palavra envenena na língua
e não tou nem aí pro que minha mãe vai dizer
pro que meu vô com sua crítica super construtiva vai pensar
porque o hermetismo é o preço do contexto diferenciado
e afinal porque se a arte não for vida e vice-versa vale mais todo mundo se suicidar

eu tou começando a gostar disso aqui
o design é uma porcaria
eu escrevo em versos só pra tirar sarro de todos e de ninguém
eu não me permito corrigir nada do que é escrito nem voltar atrás nas rimas e rimados

eu tou gostando porque é uma porcaria
e ninguém visita mesmo
ninguém é exagero
perdoem-me os que têm que me perdoar vocês são realmente seres especiais na existência

mas ninguém visita sabe
a título de poder usar a linguagem solto
ninguém visita e ninguém lê e ninguém entende
e não vai fazer a mínima diferença pro futuro da humanidade
exceto pelo fato de que a regra tem sua exceção e por isso você pessoa super especial que está aqui realmente lendo sentindo entendendo e pirando na batatinha está fazendo toda diferença pro universo a vida e tudo mais
especialmente pro futuro da humanidade

interrupção magnética
aguarde o processamento

sim eu acendo um baseadinho
mas putz que palavra feia
eu acendo uma ganjazinha
sim eu acendo ela sempre bem no meio do poema desgraçado que não é poema sem fim
eu vou fumando ela com os beiços tranquilos inspirando também pelas narinas dói mas é bom que só
eu sempre tosto assim pela poesia com a poesia nós somos a poesia eu a fumaça e todos os deuses que nos ouvem

todos os deuses que o vazio da desesperança nos abraça
essas alegrias de brisar na maionese de azeitonas pretas
-,:~^ e de poder jogar assim uns caracteres aleatórios só pra dizer que até as regras não são regras

e que eruditozinho nenhum do século quarenta e dois depois de Alika vai poder dizer que eu estava digitando num teclado que não continha letras maiúsculas nem pontuação pois ali está e aqui mais pertinho estão os exemplos mais dignos e sinceros de que não é bem isso não

é uma
questão
de escolha

sacumé!

se num se enxerga a fina dádiva de se poder errar
se perde a alma fatal do amante errante
sem erro não tem errante então eu peco que é pra me fazer picante
pimenta
pimenta sim é coisa de macho

mas sabendo usar
que nem as copaíbas
as mulheres
os sonhos
o trabalho

pode ser coisa de macho
se fizer direitinho

timtim por timtim
nos trinques mesmo
cacetada
piromba!
faz isso direitinho
seja corajoso
uma vez
quanta ausência de lealdade
pra com a inteligência que a vida nos deu

povo quer tudo mastigado
vão ler as enciclopédias então prêula!
é fi
reclama não
reclama não das coisas da vida

que nem eu não vou fazer disso uma reclamação
então por favor não reclama da vida não

vai fi é como diz a lenda
bica de rolê não tem procom pra reclamar não

eu sou aquele chupacú desgraçado
mas eu gosto que só quando é bem rosinha

isso que é pra já logo arrochar
fuck-se é oque desdigo tresdigo
encabrestem as onomatopéias porquê eu tou chegando!

eu não entendo esse povo
que deixa de lado as azeitonas da pizza
ou do que quer que seja que tenha azeitonas
em cima no meio por baixo azeitonas inteiras

se é pelo puro incômodo de terem caroço
é sinal bíblico da chegada do fim do mundo
que as pessoas deixem a preguiça reinar

a vida é cheia de caroços
mas não desperdice suas azeitonas por isso!

também amo alcaparras
e aliches
e tudo que for salgado e azedo e amargo
gilós alhos fritos rúculas almeirões
pestos aos ribeirões!
correm em mim rios de limões...

se você gosta do azeite
pode fazer jus
e buscar compreender sua essência
sua origem
seu alpha e seu ômega
a azeitona

haja paciência!
deixa queimar
deixa rasgar

eu gosto do vulcão goela abaixo
eu mato barata com tiro de bazuca

ah o que você faz comigo ninguém sabe
e logo me dou conta de que você é minha

berro louco uivo transmutante de júbilo
deixa o estrondo se afogar no colosso do ritmo

grito no talo da testa a alegria de implodir
deixa acharem o que quiserem achar
deixa pensarem o que pensam que pensam
deixa eu fazer uma estrofe de quantos versos eu bem entender

deixa eu parar de contar os números
deixa eu parar de andar pela rua reparando a desidratação do mundo
deixa eu deixar o que for pra ser deixado pra trás e que não volte nunca mais
e eu vou sentado na nuvem voadora inalando essência de papoulas
eu vou em minha posição sublime de lótus azul surfando os melhores pesadelos
o céu sorri sobre mim e ah ninguém sabe o que você faz comigo
presentes que você me dá ah ninguém sabe

eles me chamam de idiota
sem noção se jogando pra todos os lados
mas eles não podem me odiar porque eu não esbarro em ninguém

elas eu sei que no fundo me odeiam porque eu prefiro dançar que olhar pra elas
mas no fundo esse ódio eu também vou amando e um dia ele vira luz ou não quem sabe
deixa eu ultrapassar o tamanho de um verso que alcance lá pra lá do canto direito da caixinha de texto e venha assim aqui embaixo continuando grande como bem entender
e corroda-se essa metalinguagem imbecil pra completar o ciclo daquilo que já não está mais nem aí pro que é ou deixa de ser poesia

lar doce lar do meu bem estar
lar doce lar do meu bem querer do nosso bem viver

divertido é criar leis pra como se usa a língua espiritualmente
por exemplo proibir possessivos pelo desafio duma descrição mais neutra
mas também o fogo que queima e não incomoda

deixa queimar
deixa rasgar

só está faltando um fósforo
me dê aí
e não se esqueça que nesse momento
o sol invadiu as casas
e o mar agitado engoliu as troças

lar doce lar do meu azul
senhor deus estou indo estou indo aí aqui e dessa vez é pra ficar
foi sem querer querendo
eu me estorvei

mas eu acho que é pra melhor
é pra melhor eu afiar ambos gumes da faca

é pra melhor destronar a ilusão
e acabar com o encanto em nome da sinceridade

eu até que bem preferia ser de outro jeito
mas ah que mentira deslavada preferia nada

ora essa
deixe estar

que mal pode fazer
ela saber que a amo

que a amo tão violentamente
que prefiro deixá-la em paz

que a paixão é tão magnética
que acho melhor preservá-la como relíquia intocada

foi sem querer querendo
eu já não era mais aquilo que sonhei que devia ser

eu já não era mais
aquilo que acreditava em si como na mais absoluta das coisas

mas quem sabe
quem sabe me enganei ao me desacreditar

quem sabe o anjo presunçoso traria a bonança
quem sabe acariciando felinos da vizinhança com suas pulgas ele fosse um gênio

se os pássaros nasceram pra cantar eu nasci pra dançar
e se há pássaros que não cantam há também corvos humanos doentes do pé

eu bebo cerveja a cada treze luas cheias
também me apaixono perdidamente pela inconveniência a cada treze luas cheias

mas ninguém está contando
e só sobraram as pontas dos de pontas pra enganar a garganta

e sei que depois disso vai ficar triste
vai ficar triste dizer aquele oi comprido de vogais virtualmente entusiásticas

vai ficar difícil arrastar as vogais e os risos descontrolados
sabendo que no fundo há paixão tão séria que se faz ouvida na embolada

que no fundo há atração tão fatal que melhor seria criarmos mundo imaginários
melhor seria se continuássemos inventando deuses pra podermos nos achar melhor que eles

mas isso não importa
não importa patavinas

como o dejeto do poeta não importa
como aquilo que supera o além do poeta não importa

há ouro líquido
é suco de cevada maltada

há ouro verde
é alga unicelular transnutritiva

há ouro azul
é meu céu de diamante

há ouro violeta
explode em meu labirinto amor destemido a todos os seres

eu não vim nessa vida pra ser pedra
eu não vim nessa vida pra economizar

vou perder minha audição
só tem uma me dizem

vou perder minha visão
não encare ao sol eles insistem

mas os melhores foram cedo
quanto mais intensa a chama mais breve a vela

mas os melhores ainda não sabiam das bagas tibetanas
os melhores eram psiconautas que morreram empurrando as barras das grades

os melhores morreram tentando falar da verdade
quem sabe serei mais um dentre tantos mártires a morrer por pronunciar a verdade

quem sabe se vivemos uma época já tão inequívoca tão avançada
que este deboche pra com as aristocracias merceeiras mercenárias passe inútil invulnerável

se vivemos já um tempo tão próximo da verdade
que um quibe frito de poeta pode declamar o ultimatus social sem ser baleado como astro do rock

sim não dou chances ao ódio
vamos curar a terra

se eu sou só coisa que se faça útil por aprimorar a harmonia do mundo
se eu sou só coisa que se faça valiosa por massagear as fadas sem o mínimo segredo

se você sente
a batida

viva
me pergunto quanto tempo vamos aguentar

viva
porque nós vemos essas cores

isso tudo me assusta
mas tanto faz

isso está me matando se não podes ver
então vou morrer de vez

a morte meu desconhecido da pista de dança
faça o ódio parar e se levante

porque temos todo esse amor pra dar sabe como é
e vamos correndo passar ele pra frente